O vendedor, os bolivianos e as ruas.
Todos correndo para um lado
e para o outro.
Todos com pressa de chegar
à algum lugar.
Pressa daqui pressa de lá.
Só não tem pressa o vendedor, que espera o semáforo fechar, para que com os
carros parem e ele lá com suas balinhas no braço, vá tentando o que dá.
O homem negro, de camisa branca, calça jeans délavé, aparentemente
suja, suja do esforço do trabalho, ele sim parece não ter pressa. Talvez tenha,
pressa de vender seu produto, para poder então descansar.
Uma moça bonita passa por ele. Ele logo encontra tempo para olhar,
e quase não percebe, o sinal fechar. Lá vai ele, para mais carros abordar.
O olhar atento às ruas, às vezes perdido, às vezes sagaz, nas
pessoas a circular.
A música dos bolivianos do outro lado da rua parece fazer trilha,
e a sua história ilustrar .
As balas são de hortelã, cobertas por açúcar, mas parece não
agradar.
São 12h55, e ninguém a comprar. Mais um farol se abre e o homem
espera o próximo fechar.
Ônibus vem, ônibus vai e as pessoas com pressa.
A senhora no ponto reclama para o seu marido, ambos são idosos,
que na sombra está frio. Ela tem razão.
Um homem aparece gritando do nada e corre pelas calçadas do
centro. Todos olham, a princípio chega a assustar, mas seus trajes não negam, é
um mendigo a alucinar.
O ônibus de outra linha para e pegar passageiros. Tampando minha
visão, deixo de saber se o homem consegue sua venda realizar.
Às 13horas consigo avistar, o homem encostado no relógio do
centro, uma sombra que se faz. 26 GRAUS, o sol aumentou e ele lá está a
observar, de sapato surrado, mais sua dignidade impecável, de seu dinheirinho
ganhar.
Lá vai ele tentar mudar, mudar à alguém a comprar. A música dos
bolivianos continua a tocar. Às pessoas continuam, a correr para lá e para cá.
No ponto a senhora continua a esperar. O ônibus demora a chegar, e o banco de
espera, não é o suficiente para todos acomodar. O homem continua a esperar,
outro farol se fechar, e ele lá tendo que mostrar para os clientes o que há.
São 13h05, e ele lá está.
A senhora do ponto reclama da demora do coletivo ao seu esposo
idoso. Ela tem razão continua a demorar.
O fluxo de pessoas circulando nas ruas vai ficando menor, é hora
do serviço para alguns retornar.
São 13h09, outro ônibus para, para passageiros pegar, não consigo
visualizar, se o homem consegue fazer sua venda içar.
Ele olha no relógio, deve estar a pensar.
Em quê? No quê, em quem? Não dá para imaginar.
Ele oferece para carrinhos, ele oferece para carrões e nada de
concretizar, e sua venda findar. Os bolivianos continuam a tocar. O fluxo de
carros volta a andar, e ele volta a encostar-se ao ferro do relógio para
esperar. Esperar mais um farol, o farol fechar.
São 13h12, é sol e venta. Percebo que conseguiu realizar sua venda
a um taxista, ele confere as moedas e as guarda no bolso.
O homem permaneceu a vender nas duas primeiras faixas a esquerda
dos motoristas, deve ser para facilitar.
São 25C, 13H15, acho que ele conseguiu mais uma venda realizar ou
pelo menos um papo com algum motorista conseguiu ganhar.
O meu ônibus nada de chegar. Ele oferece a bala a um estudante que
o ignora sem nem acenar. Outra moça bonita passa, ele vira o pescoço para a
desejar.
São 13h22, meu ônibus chega. A senhora acompanhada do esposo idoso
enfim para de reclamar. O homem continua lá oferecendo o seu produto aqui e
acolá.
Antes de o meu ônibus partir, faço às últimas observações.
Ele coloca uma de suas balinhas na boca.
Meu ônibus começa a ensaiar para partir e os bolivianos começam a
tocar a música “Imagine” de John Lennon. Muitos pensamentos a minha mente vem a
borbulhar. Pessoas param para apreciar os bolivianos a tocar, mas a pressa é
tanta que o ônibus volta a andar e as pessoas com pressa a se movimentar para
lá e para cá.
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